Negro no Rio Grande do Sul

NEGRO NO RIO GRANDE DO SUL

Os negros entraram no Rio Grande do Sul com os primeiros casais povoadores de Rio Grande e com alguns oficiais militares, na condição de escravos. Mais tarde, alguns estancieiros, donos de sesmarias, também trouxeram escravos. Nas estâncias o trabalho escravo restringia-se às lides domésticas e às lavouras. Os negros abasteciam a casa de água, lenha, ordenha de leite, cuidavam dos animais domésticos, plantavam, cozinhavam, lavavam roupa e cuidavam da limpeza, organização e abastecimento da casa do senhor da estância. Os primeiros estancieiros do Rio Grande do Sul não utilizavam o negro como peão, pois poucos índios e mestiços davam conta do serviço com o gado, junto com o patrão. Além disso, não se aceitava que a atividade campeira exercida pelo senhor branco fosse praticada por escravos. Só depois de muitos anos, com a mão de obra indígena escassa, é que o negro passou às lides campeiras, acompanhando seu senhor e tornando-se ótimo peão. Vale salientar, também, que no principio o peão negro não usava o cavalo, para não facilitar uma provável fuga e não ficar em igualdade com os peões brancos e o seu senhor. Na agricultura, os açorianos apelaram para o trabalho do negro, na derrubada das matas e na abertura de estradas, bem como nas plantações de trigo.

Na região de colonização alemã e italiana, não foi utilizado o trabalho do escravo, devido a uma lei que proibia o trabalho do negro como tal. É na charqueada que a presença do negro escravo se destaca, pois todo o trabalho nesse tipo de estabelecimento é feito por ele. Carneadores, salgadores, graxeiros, marceneiros, pedreiros, carpinteiros, tripeiros, carreteiros, serventes, escravos para o serviço da casa eram algumas atividades realizadas pelo negro nas charqueadas. O trabalho era tão estafante que servia de ameaça aos senhores do norte do Brasil aos seus cativos. Durante o verão e o outono, era intenso o trabalho com a matança do gado e a salga da carne. Eram 12 ou 14 horas diárias de trabalho, expostos ao sal, que lhes corroía a pele, e à carne, ao calor do fogo das graxeiras e ao sol, estendendo mantas de charque e matando o gado.

A presença do negro também se fez presente nas lutas rio-grandenses, defendendo a propriedade do seu senhor dos ataques dos espanhóis, nas lutas pelas fronteiras rio-grandenses e na Revolução Farroupilha. Aos negros escravos que se alistassem às tropas republicanas eram oferecidas cartas de alforria. Mesmo lutando ao lado dos brancos pelo mesmo ideal, os acampamentos de guerra dos negros eram separados daqueles ocupados pelos brancos; além disso, ao negro era proibido o uso de armas de fogo.

Nas cidades antigas, o negro escravo fazia a maior parte do serviço que hoje é feito por máquinas: puxava água dos poços ou trazia das fontes, abastecia a casa de alimentos e lenha, cozinhava, lavava, passava roupa, fiava, tecia e costurava à mão; carregava cargas, cuidava de animais domésticos. Os negros escravos eram carpinteiros e marceneiros; nos estabelecimentos comerciais, trabalhavam nos depósitos e não atendiam no balcão. Assim como aconteceu em todo o pais, aqui no Rio Grande do Sul também houve quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam). Existiram quilombos na Serra de Tapes, perto de Pelotas, e na região do Litoral Norte.

Influências do negro na cultura e no folclore rio-grandense

No folclore gaúcho, encontramos várias lendas negras, embora seja salientada somente a do Negrinho do Pastoreio. Temos lendas negras como Pai Manoel, Lagoa Negra, Lenda da Lagoa da Pinguela, Santa Rosa, Torres da Igreja das Dores, Escrava Honrada, Pai Quati, Andorinha, Ressuscitado e Cambai. No vocabulário gaúcho, também encontramos palavras de origem africana, como matungo (cavalo velho), chandango, mocotó, fulo, tunda, monjolo, quitanda, cachimbo, milonga, sanga, cacimba, marimbondo, mondongo, pombo, fandango, chambão (surrado), gimbo (moeda), fuá (arisco), moleque (guri). Também na culinária, o negro deixou sua contribuição: o mocotó, a feijoada e o quibebe. Não podemos deixar de salientar a cozinha religiosa, imensa e variada. Era feita pelos negros e oferecida aos seus santos, mas muito apreciada pelos brancos também: quindim, cocadas, rapaduras, pratos com carne de porco, galinha e carneiro. Nas festas tradicionais, temos também a contribuição do negro, tais como a de Nossa Senhora dos Navegantes, Divino Espirito Santo, São Benedito e o Carnaval. No litoral, há congadas, quicumbis, moçambiques. Além disso, o negro trouxe para o Rio Grande do Sul seus cultos religiosos, que atualmente têm seguidores de todas as etnias, como o batuque e a umbanda.

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Professora Ana Luiza Jaskulski
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